Não pude me despedir de Moema Baptista. Estou quarentenado, que é uma espécie de morte precária, uma suspensão da vida, condenado por um vírus à vedação dos abraços, dos beijos nos amigos, do afago dos ombros no rosto úmido e salgado de dor daqueles que choram a partida de Moema.
Na verdade, de certo modo, exerço o negacionismo. Não quero me despedir de Moema. Despedir-me dela seria dar adeus à personificação do sorriso, da militância associativa, da combatividade expressiva, da generosidade altiva.
Há alguns anos, entre tantas e tantas oportunidades em que foi reconhecida, premiada, laureada, laudada, em ocasiões sempre merecidas, tive a oportunidade de homenageá-la, identificando-a com a própria advocacia trabalhista. “Quando se designa ‘advocacia trabalhista’, posso substituir, sem pejo, a expressão por Moema Baptista. Ela é daquelas criaturas cujas trajetórias de vida elevam-nas à condição de ícone, de símbolo.” Foi o que escrevi em um livro editado em sua homenagem, organizado por Celso Soares, a quem até sempre agradeço por haver me inserido entre os colegas que participaram daquela obra.
Moema tem origem em Cacheiro do Itapemirim, no Espírito Santo, terra de Rubem Braga: letras de fino traço. De Roberto Carlos: Música de afinação e trato.
Em terra de letra e música, nascida em família que cultua tudo o que há de bom, não poderia ser senão o que se tornou. Conhecimento (seu pai, Deusdedit Baptista, é uma referência do magistério e dá nome de escola em sua cidade), arte, festa, convivência, solidariedade, luta, amor.