Jorge Luiz Souto Maior
O Brasil vive um momento bastante complexo, que nos dificulta a compreensão dos fatos, também porque muito do que se sabe pela grande mídia não são os fatos propriamente ditos, mas versões, tantas vezes deturpadas, sentimental ou propositalmente construídas. O resultado é o imobilismo, porque fica bem difícil saber para onde ir, o que e a quem defender. Em meio a tudo isso, eis que os estudantes secundaristas, pessoas de 13 a 16 de idade – alguns com 17 ou 18 –, resolvem mostrar que é possível ter boas e certeiras causas pelas quais lutar e saem às ruas em defesa das escolas públicas nas quais estudam. Jorge Luiz Souto Maior
Do filme “Cronicamente Inviável”, do diretor Sérgio Bianchi, extrai-se a mensagem de que as formas de dominação das relações sociais no Brasil teriam construído um sentimento cultural de que não basta explorar pessoas, há que se maltratá-las[1]. A Universidade de São Paulo, segundo as diretrizes adotadas por suas últimas administrações, parece querer fazer escola dessa lição, pois se já não bastassem a preservação de uma estrutura autoritária, a repressão sobre estudantes, professores e servidores, com vigilância, catracas, sindicâncias e até espionagens, a negação ao diálogo, a redução drástica do quadro de servidores, o desrespeito aos direitos de sindicalização e de greve, o incentivo à privatização por meio de fundações e apelo à terceirização, fazendo vistas grossas à Constituição, e o desestímulo à carreira docente de dedicação integral à universidade, chegou-se agora ao ponto da explicitação de uma violência gratuita, que só se explica mesmo a partir da noção explorada no filme referido. Jorge Luiz Souto Maior Achas mesmo que o que se passou comigo pode entrar em uma página de livro? Vá que seja, mas veja bem esta não é uma história com final definido.
Tudo começou com meu renascimento. Um dia, uma brisa, surgida ao modo da grande explosão que deu origem ao universo, foi crescendo até se tornar um grande vendaval. A força do vento empurrou a porta que me mantinha aprisionado em uma sala escura. Libertei-me e, rapidamente, espalhei-me entre os seres humanos. Graças à minha presença estes tiveram a percepção do que se passava nos campos, com a miséria, a violência e a tristeza. Já sabiam do medo, mas não se atreviam a explicá-lo. Aliás, nada, de fato, tinha nomes precisos, até porque a realidade das coisas era o que tinha que ser, por obra daquele em quem tudo se explicava. Jorge Luiz Souto Maior 1. Alienação e otimismo
Permitam-me interromper essa onda de pessimismo que tem sido espalhada diariamente pela grande mídia e que se encontra estampada também nos discursos da intelectualidade de esquerda. Sei que em um momento complexo como este, em que tantos, por tantas razões diferentes, nem sempre muito bem compreendidas, apostam no caos, ou o assumem como inexorável, podendo-se identificar um processo de desolidarização ou desumanização, falar em otimismo pode parecer meio idiota. Mas ser otimista quando está tudo bem é fácil, embora o que se devesse exigir nas épocas de bonança fosse uma boa dose de pessimismo para evitar os mascaramentos. Então, em momentos de depressão o papel da razão não é aprofundar o desespero e sim tentar trazer à tona fatores favoráveis para impulsionar ações positivas, sem se deixar levar, é claro, pelas banalidades da auto-ajuda e sem reforçar as lógicas de alienação. Jorge Luiz Souto Maior (*) Marcus Orione Gonçalves Correia(*) Valdete Souto Severo(*) Luís Carlos Moro(*) Alberto Alonso Muñoz(*) Almiro Eduardo de Almeida(*) Alessandro da Silva(*) A AJD - Associação Juízes para a Democracia, em 22 de setembro, publicou uma Nota acerca da decisão do CNJ que determinou o corte de ponto dos servidores federais em greve, com a qual concordamos integralmente e por isso reproduzimos o seu teor:
Jorge Luiz Souto Maior No dia 02 de setembro de 2015, a classe trabalhadora e, em especial, os servidores públicos federais, foram vítimas de mais um golpe, assim denominado não por força de expressão, mas nos estritos limites técnicos do termo, ou seja, a supressão temporária das garantias constitucionais da cidadania e da democracia, o que caracteriza um Estado de exceção.
Verdade que no que se refere à classe trabalhadora vive-se, no Brasil, há décadas, um Estado de exceção permanente[1]. Nem por isso a perversão da ordem torna-se normal. Nem por isso não deva ser denunciada e combatida, ainda mais nas condições graves como este último golpe se deu. Pois muito bem, no dia em questão, o líder do Congresso Nacional realizou uma “manobra” para evitar a votação do veto presidencial à lei que, enfim, após longos nove anos, conferia aos servidores públicos federais, um reajuste salarial. Ocorre que a votação do veto, podendo gerar a sua derrubada, é um procedimento previsto constitucionalmente. Além disso, instaurado o quórum congressual não se pode adiar a votação pura e simplesmente, sem nenhuma justificativa. Mas foi o que aconteceu, sem qualquer fundamento jurídico válido. |
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July 2024
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